13 dezembro 2005








13/12/2005
A Daspu é um deslumbre



Fora o presente de uns óculos Chanel (ma-ra-vi-lhosos!...) que a amiga Josefina Jannuzzi comprou em Paris, por achar que sua “liderança feminista” de vez em quando deve andar nos trinques; e meu desejo alucinado de adolescente pobre pela primeira calça Lee (que a gente nunca esquece!) – que custava os olhos da cara, no fim da década de 60 –, jamais fiquei deslumbrada por algum “trem de marca”, como estou para vestir Daspu...

Esperar março pela primeira coleção Daspu será um suplício... Serei franca: há algo de maior fetiche do que vestir roupa de puta? Daquele estilo “roupa matadeira”? Pelas deusas, não! Portanto, tudo indica que vestir Daspu vai ser um arraso! Duvidar, quem há de?

Sou desligada desses salamaleques de roupa de griffe e que tais. Sou uma relaxada, como dizia vovó, um desgosto para qualquer mãe.

Mas mexeu comigo de modo positivo Gabriela Leite dizer: “Serão roupas insinuantes, sensuais, mas sem vulgaridade. Queremos resgatar a elegância das meninas do passado; a linha de batalha vai ser ousada, provocante, sem ser ridícula ou vulgar”.

(Grande Gabriela!). A Daspu é uma rota segura para a sustentabilidade da ONG Davida – prestadora de relevantes serviços à cidadania das prostitutas de nosso país. O mínimo que pessoas decentes podem fazer é desejar axé.

A Daslu entrar na Justiça contra a Daspu, alegando deboche não é mera figura de retórica, que deve ser rechaçada com veemência, pois evidencia preconceito e arrogância incomensuráveis, aos quais se agrega a fala racista do advogado Reali Fragoso, que, no afã de justificar o clássico e inócuo “nada contra as putas”, arrotou a seguinte pérola: “Mas ela não vai permitir o uso da marca para denegrir o nome da Daslu, que é conhecido internacionalmente”.

Doutor, tome tento! Não precisava extrapolar. A Daslu está atolada em problemas, de todos os naipes, e sua fala cristalinamente racista pode afundá-la mais... Como um negócio de luxo não vê um palmo adiante do nariz nas condições da legalidade! Neurônios fazem falta.

A Daspu, involuntariamente, será a salvação da lavoura de Eliana Tranchesi: contribuirá para humanizar e tornar menos antipática aos olhos do povo o seu negócio.

Embora a clientela Daslu seja outra, nada arejada e nem descolada, ela necessita da tolerância popular para que não se cristalize no imaginário das pessoas comuns como um acinte.

A imagem Daspu é exatamente o contrário, logo não prejudicará a loja da granfinada e, sim, lhe agregará valor, algo chamado reabilitação moral, no senso popular.
fatima@vermelho.org.br